domingo, 24 de junho de 2007

Apresentação



O carnaval chega à pequena cidade de Rio Goroso da Serra na figura de um gigantesco Arlequim sobre um carro alegórico. Que desastre se ela de uma hora para outra criasse vida, diz o narrador, referindo-se à tal figura. Mas ela cria... e adentra a cidade, destruindo brutalmente o seu portal, metáfora da tradição, da memória, da história de Rio Goroso.


A personificação conferida a determinados símbolos do texto, como o Arlequim e o chafariz da praça, por exemplo, é responsável por momentos da narrativa em que ela própria parece desejar fundir-se à poesia.


O chafariz, originalmente uma ninfa, representante do modelo clássico tradicional, passa a Colombina, que com o tempo se apresenta frágil e desgastada, resultado do carnaval privado de seu sentido original e verdadeiramente transgressor, bem como de qualquer outro sentido que pudesse vir a adquirir:


A Colombina estava ficando para titia. (...) E nem sequer lhe sabiam o nome. A mesma ferrugem que lhe deformara o semblante de mocidade peralta, arrancara-lhe também o nome. A placa corroída exibia só borrões metálicos.


A memória, por sua vez, tem seus guardiões tanto dentro como fora da ficção. Pedro Pedreiro (cinco Pedros ao todo no texto!), ao ser indagado sobre a continuidade de seu trabalho na manutenção da guarda do portal após a sua morte, não titubeia ao responder: - Meus filhos (...). As gerações seguintes resguardarão a história como na tradição oral, em que a memória se perpetua através do contato entre os homens e da língua por eles falada; as gerações como a das personagens de Pedrinho Porque e Pedrinho Duvido, nascidas no governo da Conjuração Carnavalesca, questionadoras da realidade que se lhes apresenta, como seus próprios nomes sugerem.

Tereza Paula Alves Calzolari
(Doutoranda em Literatura Brasileira pela UFRJ)

Breve curriculum de F. F. Moniz

Nasceu em Salvador (Bahia), em 1976. Graduado em Latim, Especialista em Literaturas Africanas, Mestre e Doutorando em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Publicou em 2003 o infantil Eusou e o Chapeu, além de ter integrado antologias de contos e poemas. Agraciado com vários prêmios literários nacionais e internacionais, como o Prêmio Internacional de Contos Graciliano Ramos (SEERJ), Adolfo Aizen (UBE) e Newton Sampaio (Secretaria de Estado de Cultura do Paraná). Atualmente se dedica à Tese de Doutorado Obras completas de Laurindo Rabello: edição crítica e ao blog O Voyeur (ffmoniz.blogspot.com).